Velhos são os trapos!



O ano de 2019 foi um ano marcante, a vários níveis. De crescimento pessoal e profissional, e sempre com uma vontade férrea de aprendizagem, muito em particular sobre tudo o que rodeia o mundo vinícola, ao qual já estou ligado por razões familiares.
 
Nestas ocasiões de balanço, surge sempre a tentação de elencar o que de melhor nos aconteceu no ano ora findo, e os vinhos não são exceção, sendo muito comum encontrar nos media especializados e um pouco por esta blogosfera fora, tentativas de classificação, mais ou menos desinteressadas, do que se denomina os "melhores vinhos" provados durante o ano.

Confesso que resisto a essa tentação. Como os mais sabedores do que este vosso escriba reconhecem, uma prova de um vinho é algo de resultado sempre imprevisível, condicionado por vários fatores, desde o estado de conservação e a temperatura a que o vinho é servido, até ao que verdadeiramente mais conta, que é o nosso próprio gosto pessoal.

Tive a sorte de ter provado grandes vinhos em 2019. Confirmei credenciais e descobri agradáveis surpresas, mesmo entre as gamas de preço mais baixas, em plena harmonia com o que costumo designar como a democraticidade do vinho. Dada essa diversidade na qualidade, não consigo, assim, dizer qual foi o melhor vinho que provei. Mas posso arriscar em dizer qual foi o que mais me surpreendeu. E, de entre outros que poderia indicar, opto pelo Quinta do Mouro, colheita de 2001.

Dirão alguns que provar um tinto com quase 20 anos, ainda para mais do Alentejo, é tarefa ousada ... e arriscada. Pois, neste caso, o risco foi amplamente compensado. A longevidade e frescura deste vinho surpreendeu-me, embora tivesse as melhores referências dele, e soubesse de antemão que o ano de 2001 proporcionou grandes vinhos, também na região alentejana.

O ceticismo inicial rapidamente foi ultrapassado, primeiro no aroma, com notas vegetais a surgirem de forma ténue mas gradual, e depois, na boca, onde este Quinta do Mouro se revelou de grande caráter, sóbrio e austero mas ao mesmo tempo imponente, com um final longo, digno dos grandes.

Ao prová-lo, não pude deixar de me lembrar do célebre aforismo "velhos são os trapos", e constatar, uma vez mais, que existem vinhos que só melhoram em riqueza e complexidade com o passar do tempo, um fenómeno que, creio, também gostaríamos que ocorresse connosco. Quem não gostaria de envelhecer bem? 

Já agora ... um bom ano para todos!                                   


Fiel Provador

                   


               
     

Comentários

Postagens mais visitadas