Os dogmas existem para ser quebrados


Do que tenho aprendido e vivenciado desde que me iniciei de forma mais consistente na nobre arte de baco, creio não andar longe da verdade se disser que não haverá nenhuma região de Portugal onde seja possível encontrar bons vinhos a preços tão acessíveis como no Dão. De facto, encontramos nesta região um vasto portefólio de vinhos de boa qualidade e de preços muito competitivos, provenientes não apenas dos grandes produtores que se encontram na generalidade das prateleiras das grandes superfícies, mas também de famílias de pequenos produtores e adegas cooperativas ainda desconhecidas do grande público, que resistem às pressões dos mercados e que produzem vinhos de uma inusitada qualidade.
 
É o caso da Cooperativa de Mangualde, de quem provei um surpreendente "Castelo de Azurara Grande Reserva Alfrocheiro", que, face ao binómio qualidade/preço que ostenta (PVP de €4,99), pode muito bem ser encarado como uma autêntica dádiva.
 
Trata-se de um vinho honesto, vigoroso mas sem grandes pretensiosismos, feito de uma casta típica da região e agora renascida noutros lugares, e que faz ressaltar a pureza e a vivacidade aromática do Alfrocheiro. Apresenta uma cor muito rica, e no aroma dá-nos notas de frutas maduras, mas foi sobretudo pela frescura e notável equilíbrio entre taninos e acidez que me seduziu, resultando num vinho de propensão gastronómica, macio e envolvente na boca, e com um final digno de aplauso.
 
Depois de o beber, realizei uma vez mais que não há verdades inabaláveis no vinho. E que o dogma assente na fórmula “quanto menos quisermos pagar, pior beberemos e comeremos" não passa disso mesmo. De um dogma que pode ser quebrado ou pelo menos questionado, como tantos outros. E nessa incerteza reside a beleza da vida. 

O Fiel Provador   


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