Eu, enochato?






 



Nos últimos tempos, tem sido muito badalada, entre aqueles que de forma mais ou menos aprofundada acompanham o mundo dos vinhos, uma teoria que se dedica a zurzir nos chamados “enochatos”. Ora, para os seguidores desta teoria, assiste-se um pouco por toda a parte, mas particularmente em Portugal, ao nascimento e proliferação desta nova espécie, alegadamente composta por gente que tem a mania que percebe de vinhos e debita uns quantos disparates, muitas vezes em linguagem hermética e rodeada de lugares comuns, mas que, no fundo – dizem estes novos ayatollah do vinho -, não passam de meros aprendizes de enólogos, ou simplesmente bêbados de fim de semana a arranjarem pretextos para irem emborcando umas garrafas, de preferência com dois dígitos no preço.

 

A ver se nos entendemos. Como em tudo na vida, em todas as áreas e setores de atividade, há sempre aquele tipo pretensioso, exibicionista e arrogante, que faz gala de exibir o seu elevado conhecimento no tema em questão, menorizando as opiniões dos outros. Quem nunca deu de caras com gente assim? Mas, caramba, isso não é um exclusivo do mundo vinícola. E, em meu entender, não tem de ser necessariamente mau.

 

Hás uns largos anos atrás, quando comecei a beber e a gostar de vinho, ouvia muitas vezes que o consumidor típico de vinho era em geral pouco informado e esclarecido, mal sabendo distinguir um morangueiro de um Barca Velha. Hoje, parece evidente que o cenário mudou, e o público consumidor de vinho tornou-se mais conhecedor e, em consequência, mais exigente, obrigando os produtores a melhorar e a procurar cada vez mais a excelência dos seus produtos, mesmo nos mais massificados, adequando-os aos nichos específicos de um mercado que se tornou cada vez mais seletivo.

 

No meio desta crescente sede e expansão de conhecimento, existirem uns quantos que ponham o seu ego à frente da divulgação de um produto que é cada vez mais um símbolo e referência da melhor produção nacional, parece-me um mal menor, para não dizer totalmente irrelevante. É bom que se fale do vinho. É bom que se discuta o vinho. É bom que se partilhem pontos de vista, mais ou menos rebuscados, com ou sem fundamento, com ou sem conhecimento de causa. Porque, no fundo, depois de esmiuçados os argumentos, tudo se resume a uma simples conclusão. Ou se gosta, ou não se gosta. É só isso que interessa.                                                    

 


 

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